Acordou da mesma forma que acorda todos os dias, virou para os mesmos lados e apertou o travesseiro contra o rosto como se ao tira-lo não fosse mais hora de acordar, pede a si mesmo mais cinco minutos de sono, suspira fundo e senta na cama, pensa a mesma coisa que passa todos os dias por sua cabeça, levanta, põe os chinelos e passa a mão sobre o rosto amassado pela noite mal dormida, já no banheiro escova os dentes com aquela mesma pasta, parencendo fazer os mesmos movimentos já impregnados pelo seu hábito, toma seu banho e as gotas do chuveiro parassem cair da mesma forma de sempre, por sua cabeça passam as mesmas idéias que acompanham aqueles pingos, seriam os mesmos pingos de sempre? Caem como tal.
Comer o pão de sempre com o mesmo presunto e queijo, no caso de comer qualquer outra coisa o gosto seria do pão de tão automáticos que são seus atos, toma o café e pensa no seu dia, e nem mesmo era preciso pensar pois tudo irá andar como sempre anda, nada muda em seus dias e isso o atormenta, e atormenta todos os dias sendo até mesmo parte de seu cotidiano ser atormentado pela sua revolta com a mesmice, anda pela rua que já conhece seus passos, pega o mesmo onibus, fica de pé como sempre e sente o cheiro de ausência que paira no onibus, ausência de humor, ausência de vontade, e presença de muitos cotidianos, de atos iguais e mecânicos, pela janela pessoas que estão sempre andando na mesma direção e com os mesmos passos, descendo para o trabalho recebe os mesmos sorrisos amarelos e sorrisos automaticos repetidos todos os dias e para todos, senta e nem mesmo consegue lembrar como ligou o computador e abriu suas pastas, esses atos estão tão profundamente impregnados que acontecem por incosciente, sai para almoçar ao horário de sempre, no restaurante de sempre, na mesa de sempre, o prato de sempre, o gosto de sempre, o troco de sempre, e volta para trabalhar, toma café na hora do café que nunca mudou, meia hora para acabar o expediente aquela mesma vontade que o tempo passe mais depressa, e a volta para casa com onibus lotado, vontade de chegar logo, tudo como acontece todos os dias.
Acordou da mesma forma que acorda todos os dias, apertou o travesseiro contra o rosto, deu um grito, pulou da cama e já caiu em baixo do chuveiro, que hoje parecia derramar gotas alegres, escovou os dentes, pegou qualquer coisa para comer e saiu correndo para não perder o onibus, direto para a rodoviária, onde já tinha passagem para outro onibus, e nesse iria viajar sentado e na janela, vendo a vida passar mas sem passar por ela, o cheiro era de retorno, de partida, menos de ausência, chegando na cidade, desceu e viu sorrisos diferentes, sons diferentes, como em um piscar de olhos, achou um restaurante diferente e foi almoçar, gosto diferente, cheiro diferente, e o troco em balas, visitou lugares e respirou outro ar, conheceu outra mulher e deitou em outra cama, e a noite caiu diferente.
Acordou sozinho, em um instante ja estava pronto, pegar um trem e sentar na janela para ver a paisagem, tomar café com um gosto estranho, gosto de novo, gosto de liberdade, pensando que ao chegar na cidade não sabe o que encontrará, e de fato não sabia, coisas que nunca tinha visto, comidas que nunca tinha comido, mulheres que nunca tinha amado, e cheiros que nunca tinha sentido, o tempo passa disparado, porém mais rápido ele é ao aproveitar cada segundo desse lugar.
Nem mesmo dormiu, em outro lugar conhecendo pessoas que nem imaginava conhecer, com sorrisos sinceros, e mesm o que fossem falsos eram coloridos e não mais amarelos, dançou outra música, cantou sem saber a letra e bebeu algo forte demais para ele, nem sequer pensou, tão rápido e intenso que só se deixou levar pela energia, aproveitou tudo, até seu dinheiro acabar.
Acordou da mesma forma de sempre, na mesma cama de sempre, apertando o mesmo travesseiro contra a mesma cara amassada, a mesma vontade de dormir mais cinco minutos e o mesmo chinelo, enquanto tomava banho com aqueles mesmos pingos pensava e ria sozinho, ser o mesmo e passar por tudo isso, para gastar tudo sendo totalmente diferente, rotina prazerosa da vida.
Eduardo D. Lacortt - Gordinho :*
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